... eu descobri que vale a pena ficar três horas te olhando 
sentada num sofá mesmo que o dia esteja explodindo lá fora. 
E quando já não sei mais o que sentir por você, 
eu respiro fundo perto da sua nuca, e começo a querer 
coisas que eu nem sabia que existiam. 
... eu te engoli e você é tão grande pra mim que eu dedico 
cada segundo do meu dia em te digerir. E eu não 
tenho mais fome, e eu tenho que ter fome porque 
eu não quero você namorando uma magrela. 
E eu sonhei com você e acordei com você, 
e eu te olhei e falei que eu estava muito magrela, e você 
me mandou dormir mais, e me abraçou. Eu preciso 
disfarçar que não paro mais de rir, mas aí olho pra você 
e você também está sempre rindo. Se isso não for o motivo 
para a gente nascer, já não entendo mais nada desse mundo. 
... você me transformou no eufemismo de mim mesma, 
me fez sentir a menina com uma flor daquele poema, 
suavizou meu soco, amoleceu minha marcha e 
transformou minha dureza em dança. Você quebrou 
minhas pernas, me fez comprar um vestido cheio de 
rendas e babados, tirou as pedras da minha mão. 
Você diz que me quer com todas as minhas vírgulas, 
eu te quero como meu ponto final.
(Tati Bernardi)





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