quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Quem era...

Quem era essa que se olhava no espelho agora?
Não, não poderia ser ela. Era sim o mesmo corpo, mas não a mesma alma.
Não reconhecia aquele reflexo.
Onde andava o sorriso e o brilho nos olhos?
Onde andava toda a alegria e a vontade de viver?
Onde andava aquela vontade de voar o mundo,de conhecer os lugares ao vivo, não só por fotografias? A vontade de estar lá de fato, tocar o solo, sentir os cheiros, provar os gostos?
Onde foi parar a vontade de ser tudo que podia, tudo que sonhava, e principalmente, todos os sonhos?
Agora só lhe restava a vontade de ficar praticamente sozinha, o minimo de pessoas possíveis e de preferência que sejam agrádaveis e que tenham bom papo.
Preferia os livros, às pessoas sem conteúdo.
Andava cansada.
Cansada de ver os sonhos ficando para traz, de ver o futuro dos outros tão mais próximo que o dela.
O futuro dos outros já acontecendo, enquanto ela, estava ali enraizada, como nunca antes havia se sentido. E percebeu então que prefere as asas.
Sentia falta de si. Do brilho nos olhos...de reconhecer o proprio reflexo.

Bjok, J.
Imagem encontrada no Google.

Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida a minha face?

Cecília Meireles





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